Um ditado em inglês afirma que “cavalos suam, homens transpiram, mas damas apenas brilham”. Mais que um divertido eufemismo, a frase revela a antiga convicção de que homens, afinal, transpiram mais que mulheres. Será verdade?
Ponto de partida
A resposta não é tão simples, mesmo para a ciência. Muitos estudos já foram feitos em busca de explicações para variáveis que pudessem interferir na quantidade, distribuição e composição do suor, como idade, fatores hormonais, peso e tamanho do corpo, tipo de atividade física, temperatura do ambiente e, sim, o sexo.
Principalmente em relação ao sexo, a curiosidade fazia todo o sentido, uma vez que cientistas sabem, há algum tempo, que homens e mulheres começam a “guerra do suor” com as mesmas “armas”: cerca de 2 milhões de glândulas sudoríparas espalhadas pela derme, a camada intermediária da pele. Até o momento, foram descritos três tipos dessas glândulas: as écrinas, as apócrinas e as apoécrinas.
Ativas desde o nascimento, as glândulas sudoríparas écrinas são distribuídas pelo corpo todo, mas principalmente nas palmas das mãos, plantas dos pés e testa. São pequenas, cada uma tem um canal excretor que se abre diretamente em poros na superfície da pele, e são as principais responsáveis pelo mecanismo que resfria o corpo.
As glândulas apócrinas, por sua vez, são ativadas na puberdade e, embora também se espalhem pelo corpo, são mais comuns na região genital-anal, seios e axilas. Elas são grandes, ricas em ácidos graxos e proteínas, o que dá ao suor um aspecto mais espesso, e terminam em folículos capilares, em vez de poros. Estudos sugerem que teriam relação com feromônios humanos.
Finalmente, as glândulas apoécrinas surgem apenas a partir da puberdade (não são encontradas em crianças) e têm características dos dois tipos anteriores: desenvolvem-se a partir das écrinas, com as quais dividem secreção similar, mas têm um duto longo e delgado que, no entanto, não termina em folículo piloso. Essas glândulas são particularmente concentradas nas axilas, onde podem responder por até 45% das glândulas sudoríparas da região.
Com um aparato tão parecido, o que a ciência tem a dizer sobre as diferenças no suor de homens e mulheres?
Homens suam mais…
Alguns estudos deram suporte à convicção de que homens suam mais. Em 2010, por exemplo, um deles, publicado na revista científica Experimental Physiology e conduzido por pesquisadores japoneses da Universidade Internacional de Osaka, analisou a taxa média de sudorese local na testa, tórax, costas, antebraço e coxa de 37 voluntários divididos em quatro grupos: homens treinados, isto é, acostumados a fazer exercícios físicos; mulheres treinadas; homens não treinados; e mulheres não treinadas.
Com exceção de aulas de ginástica, homens e mulheres não treinados não haviam realizado atividade física regular nos três anos anteriores à pesquisa. Já os participantes treinados engajavam-se em esportes de resistência por mais de seis anos.
Por uma hora, cada participante pedalou em uma bicicleta ergométrica a 35, 50 e 65% de sua captação máxima de oxigênio, em um ambiente controlado a
30 °C e umidade relativa de 45%. Os pesquisadores tomaram uma série de precauções para evitar fatores externos que pudessem interferir; por exemplo, as mulheres não estavam fazendo uso de anticoncepcionais.
Os resultados demonstraram, primeiro, que pessoas treinadas suaram significativamente mais que as não treinadas; e, segundo, os homens suaram mais que as mulheres e foram mais eficientes nisso, ou seja, o mecanismo de termorregulação do suor começou a agir com temperaturas corporais mais baixas.
Esses achados ecoaram outros resultados semelhantes, como um estudo de 2006, realizado por cientistas da Universidade de Pretória, na África do Sul, que também detectou, numa aula de spinning, que homens suavam mais que mulheres; e outro, de 2008, da Loughborough University, do Reino Unido, que mediu a quantidade de suor em diferentes áreas do corpo de homens e mulheres e detectou diferenças, com maior proporção para os homens.
… Ou talvez não
Em 2017, no entanto, um estudo mais recente pôs em xeque algumas dessas descobertas. Realizada por cientistas da Universidade de Wollongong, na Austrália, e da Escola de Enfermagem da Prefeitura de Mie, no Japão, a pesquisa descobriu que “não podemos definir homens e mulheres de acordo com sua propensão a suar”, como esclareceram Sean Notley e Nigel Taylor – dois dos pesquisadores envolvidos – em um artigo posterior.
Participaram desse estudo 36 homens e 24 mulheres, com estruturas corporais diversas, que fizeram dois ensaios. Todos eram estudantes universitários, tinham hábitos similares quanto a atividades físicas, além de resistência e percentual de gordura semelhantes.
Os ensaios incluíram repouso e pedaladas de leves a moderadas, e os participantes tiveram suas funções vasomotoras (relacionadas à circulação sanguínea) e sudomotoras (relacionadas ao suor) avaliadas, em um ambiente controlado de 28 ºC e umidade relativa de 36%.
Os cientistas descobriram que, quando homens e mulheres são estudados durante atividade física nessas condições de alta temperatura e baixa umidade, as diferenças entre os sexos quanto à perda de calor podiam ser explicadas quase exclusivamente pelas variações individuais no tamanho e forma de cada corpo.
Resumindo, o mecanismo termorregulador do corpo, que inclui o fluxo sanguíneo na pele e a transpiração, depende muito mais da morfologia que do sexo. Homens tendem a suar mais porque, em termos populacionais, tendem a ser maiores, mais altos que mulheres. Não suam mais porque são homens. Na verdade, quando comparadas pessoas com morfologia semelhante, o sexo não faz muita diferença.
Além disso, em 2019, Sean Notley também liderou outro time de pesquisadores em um estudo que concluiu que “a necessidade de perda de calor por evaporação, pico de potência aeróbia e morfologia corporal” são os maiores contribuintes para variações na termorregulação entre homens e mulheres jovens que se exercitam. Não é o sexo.
E quanto ao cheiro?
Se a diferença na quantidade de suor não depende diretamente do sexo, a história pode ser bem diferente quando se fala de odor.
Em 2009, pesquisadores da Universidade de Genebra publicaram o resultado de um estudo que acompanhou 49 voluntários homens e mulheres por três anos. A ideia foi verificar a concentração de dois precursores de mau cheiro nas axilas – o ácido graxo volátil e o tiol volátil específico humano – e até que ponto eles estavam implicados nas características de odor corporal relacionadas ao sexo.
Os próprios pesquisadores, liderados por Myriam Troccaz, declararam-se surpresos com a descoberta de que, embora homens e mulheres possam ter ambos os componentes no suor das axilas, a concentração não é igual. Independentemente do volume de suor ou da concentração de proteínas, a primeira substância, um composto de glutamina, é mais abundante nas mulheres. Nos homens, prevalece a segunda substância, que tem enxofre.
Resultado: quando há odor, o suor das mulheres tende mais para o cheiro de “cebola”; e o dos homens, para um cheiro de “queijo”. Surpreendente, não? Mais surpreendente ainda é saber que nenhum dos dois precursores de mau cheiro é componente natural do suor. Eles são resultado da ação de bactérias, o que sugere que as axilas de homens e mulheres podem ser predominantemente colonizadas por bactérias diferentes!
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